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24 de março de 2013

Alfabetização em questão

Alfabetização em questão Autora: Heloisa Amaral RESENHA Desde o mês de fevereiro, o país discute a alfabetização. Depois que Fernando Haddad, ministro da Educação, propôs esse debate, muitos educadores de renome se pronunciaram sobre o assunto, abrindo uma ampla discussão sobre o tema. A Comunidade Virtual comentará alguns desses pronunciamentos. Na edição de hoje, os comentários são de Emilia Ferreiro e de Magda Soares. É interessante notar que as duas são autoridades no assunto, têm pontos em comum e discordam em outros. Para Emilia Ferreiro, famosa pesquisadora que desenvolveu propostas de alfabetização fundamentadas nas teorias de Piaget, estimular as crianças a pensarem em hipóteses sobre modos de escrever enquanto escrevem é o mais importante no processo de alfabetização. Para ela, propostas que levam as crianças a memorizar fonemas sem refletir sobre o que fazem são um retrocesso. Ela concedeu entrevista à Revista Nova Escola, na qual diz: "Eu não aceito discutir alfabetização hoje nos mesmos termos que se discutia nos anos 1920. Os defensores do método fônico não levam em conta um dado que sabemos hoje ser fundamental, que é o nível de conscientização da criança sobre a escrita. Ignorar que ela pensa e tem condições de escrever desde muito cedo é um retrocesso. Eu não admito que a proíbam de escrever". Emilia não aceita que se utilizem as expressões "letramento" e "alfabetização" para nomear dois momentos diferentes no processo da aquisição da escrita. Para ela, utilizar "letramento no lugar de alfabetização, tudo bem. A coexistência dos dois termos é que não funciona". Nesse ponto, ela tem opinião muito diferente de outros pesquisadores em ensino de escrita. Magda Soares, pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais, por exemplo, utiliza os termos "letramento" e "alfabetização" para distinguir dois momentos no processo de apropriação da escrita pela criança. Para ela, o letramento da criança se dá nos diferentes momentos em que ela faz uso da leitura e da escrita, tanto em casa como na escola ou em outros ambientes sociais. O processo de alfabetização, porém, segundo essa autora, é o momento de aquisição dos aspectos técnicos da escrita e é responsabilidade da escola. Veja o que ela diz sobre isso: "Chamo a escrita de técnica, pois aprender a ler e a escrever envolve relacionar sons com letras, fonemas com grafemas, para codificar ou para decodificar. Envolve, também, aprender a segurar um lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da esquerda para a direita; enfim, envolve uma série de aspectos que chamo de técnicos. Essa é, então, uma porta de entrada indispensável". Embora ela admita que há necessidade de a escola trabalhar com alfabetização, não concorda, como os adeptos do método fônico, com a necessidade de primeiro alfabetizar para depois trabalhar com a escrita em seus diferentes usos, o que é chamado de letramento. Para Magda, "não é preciso primeiro aprender a técnica para depois aprender a usá-la. E isso se fez durante muito tempo na escola: "primeiro, você aprende a ler e a escrever, depois você vai ler aqueles livrinhos lá". Esse é um engano sério, porque as duas aprendizagens se fazem ao mesmo tempo, uma não é pré-requisito da outra". Como o leitor pode ver, Magda Soares acredita que a alfabetização é tão importante quanto o letramento, coisa da qual Emilia Ferreiro discorda. A pesquisadora mineira explica bem como vê essas questões: "A proposta construtivista (que é a de Emilia Ferreiro) é justa, pois é assim mesmo que as pessoas aprendem, não apenas a ler e escrever, mas é assim que se aprende qualquer coisa: interagindo com o objeto de conhecimento. Mas os métodos viraram palavrões. Ninguém podia mais falar em método fônico, método silábico, método global, pois todos eles caíram no purgatório, se não no inferno. Isso foi uma conseqüência errônea dessa mudança de concepção de alfabetização. Por equívocos e por inferências falsas, passou-se a ignorar ou a menosprezar a especificidade da aquisição da técnica da escrita. Codificar e decodificar viraram nomes feios. 'Ah, mas que absurdo! Aprender a ler e escrever não é aprender a codificar e decodificar'. Aí é que está o erro. Ninguém aprende a ler e a escrever se não aprender relações entre fonemas e grafemas para codificar e para decodificar. Isso é uma parte específica do processo de aprender a ler e a escrever. Lingüisticamente, ler e escrever é aprender a codificar e a decodificar". Você pode acessar a entrevista completa com Emilia Ferreiro no seguinte endereço: Revista Nova Escola

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